A passagem de 100 mil reais

Ele comprou, no cartão corporativo e apenas 2 dias antes da viagem, uma passagem de 100 mil reais na classe executiva para ir em evento nos EUA.

Lembro de ter discutido esse caso com outro colega gerente quando eu estava no Google. O funcionário que fez isso trabalhava em uma posição júnior no time de vendas e sequer consultou seu gerente sobre o gasto alto e a viagem.

Qual foi a punição dele? Um simples: “da próxima vez compre com mais antecedência e alinhe com seu gerente.” Fim.

A história acima é, pra mim, um dos casos mais emblemáticos para mostrar o tamanho da abundância que reinava nas grande empresas de tecnologia há alguns anos. Tive o privilégio de trabalhar em duas das maiores, 11 anos no Google e 6 anos na Meta, e vi tudo isso de camarote.

É até difícil descrever como tudo era. Computadores modernos, celular de graça, geladeiras repletas de comidas e bebidas de todos os tipos, um escritório com estrutura de cinema, salários e benefícios incríveis, viagens (muitas viagens, a foto do post foi uma da dezenas que fiz, fui visitar o escritório do time do Android em 2011) e tantas outras coisas.

Entre elas, uma que contrapõe totalmente o que vemos agora: um número infinito de vagas abertas. Era tanta demanda de gente que a maioria das empresas tech pagava um valor substancial para os funcionários indicarem amigos e conhecidos, eu perdi a conta de quantos indiquei.

Todos esses momentos voltaram com tudo aos meus pensamentos com a onda de demissões em massa que estamos vendo desde o ano passado. Por ter passado quase 2 décadas imerso em tanta fartura, é quase inacreditável testemunhar o que está acontecendo.

Era uma sensação absoluta de que meu emprego e tudo ao redor nunca iria acabar, era simplesmente impossível.

Não foi.

A história tem milhares de exemplos para nos mostrar que tudo, eventualmente, decai, acaba ou muda. Tudo. Achar que isso não vai acontecer com a gente, com o lugar que estamos, é apenas uma ilusão.

Ter consciência disso não vai mudar o que acontece, mas nos faz pensar mais sobre o amanhã, sobre o nosso plano B, sobre nunca esquecermos do nosso eu fora do trabalho e, quando a realidade bater, vai doer menos.

Ainda dói, claro, mas ficamos mais preparados para engolir o choro e ir em busca do próximo desafio.

Nesse ponto quero afirmar algo categoricamente: sempre há um novo desafio esperando por você.

Sempre.

Por: Luciano Santos